segunda-feira, 3 de junho de 2013

Entrevista da Professora Kênia ao Jornal do Sudoeste



 

Publicada em 26/05/2013 às 23:45:00
Pequenas atitudes, grandes mudanças


professora paraisense Kênia Cristina Nogueira Rodrigues

A professora paraisense Kênia Cristina Nogueira Rodrigues foi escolhida em 2012 pelo Ministério da Educação para o Prêmio Professores do Brasil. Com o projeto “Meio Ambiente: pequenas atitudes, grandes mudanças”, Kênia está mobilizando a sociedade paraisense em prol da responsabilidade de todos para com a preservação do planeta. Com 45 anos de vida e 23 de profissão, Kênia tem certeza: são as pequenas atitudes que farão a mudança no futuro.

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Que caminhos a levaram ao magistério?

Na verdade, eu me formei porque o sonho de minha mãe era que eu fosse professora. Eu tinha planos para uma área de que gosto muito, a publicidade e o jornalismo. Na época, minha mãe não tinha condições de pagar uma faculdade, e achou que a melhor opção seria eu ser professora. Quando ela sugeriu, fui resistente. Ela foi pelo lado de que, se um dia eu me casasse, poderia trabalhar meio período e me dedicar à família. E acabei optando pela carreira de magistério.

Quem são seus pais?

Minha mãe se chama Geni Aparecida Nogueira, e meu pai Itamar Nogueira.

Onde você estudou?

Estudei na Escola Benedito Ferreira Calafiori, sou da primeira turma formada no Magistério da escola. O Alípio Mumic foi nosso diretor, e meu professor também.

Você se lembra de professores que marcaram sua vida?

Foram muitos professores, mas a professora de Língua Portuguesa Neiva Neves marcou a minha caminhada. Eu tive o prazer, a dádiva de tê-la como professora desde a 5ª série. Ela acompanhou todo o meu período escolar. Fiz da 5ª a 8ª série no Paraisense com ela, depois ela me acompanhou no colegial, quando eu ainda estava tentando não seguir a carreira de Magistério. Depois, quando fiz a opção pelo Magistério, ela me acompanhou durante os três anos.

Você sente a influência da mestra em sua forma de lecionar?

Eu me inspiro muito na Neiva. É uma professora que está eterna em minha lembrança, pela questão didática e sua postura como professora. Acho que, hoje, muitos professores não têm essa postura, porque não tiveram o prazer de ter uma aula desta maneira. Particularmente, acho que me espelho muito nela. Principalmente, a questão da cobrança e da postura, porque acho que o professor precisa ter postura.

Onde você leciona atualmente?

No período matutino, estou no Noraldino Lima, com o 5º ano, já faz treze anos. Mas na rede municipal já estou há muito mais tempo, pois lecionei em outras escolas. No vespertino, estou no Colégio Galileu. Estava no Colégio Paula Frassinetti até o ano passado, mas fiz a opção por mudança de lugar.

De que forma o professor pode fazer a diferença, em sua opinião?

Em primeiro lugar, acho que está a cobrança. Há a cobrança pela sociedade e minha cobrança para os alunos. Eu preciso ter essa responsabilidade. Preciso pensar que o aluno fica quatro horas e meia comigo. Ele não pode vir só por vir. Eu penso neles como se fossem minhas filhas, eu não as quero indo à escola só por ir. Quero que elas tenham prazer.  É lógico que às vezes nossas aulas têm um pouco de rotina, mas também é necessário. E deve haver cobrança e dedicação. Outro lado importante é o afetivo. Ao mesmo tempo em que sou aquela professora muito exigente, porque cobro muito e todo já sabe da minha fama, sou também muito carinhosa, eu me dôo muito para meus alunos, como para minhas filhas.

Você participa de atividades extracurriculares com as crianças, no sábado, por exemplo. O que a motiva?
Eu não vejo como trabalho naquele momento. Se deve acontecer, eu não posso deixar para depois. Nessa hora, não meço esforço para levar aluno, mesmo se estou cansada, se precisei modificar meus compromissos. Tudo pelo prazer de levá-los, de poder participar, porque é importante a nossa participação na sociedade.

Por que fazer diferente, bem feito? Por que não dar apenas mais uma aula comum e ganhar o mesmo por isso?

Eu penso pelo lado da consciência. Se você pensar no lado salarial, realmente não dá para fazer a diferença. Eu acho que isso é nato na pessoa. Ela nasce com este desejo de apresentar um bom trabalho. Acho que isso também é interessante, porque temos que pensar em nosso nome. Eu penso assim: imagina uma criança aqui, por quatro horas e meia, para não fazer nada. Só para eu vir aqui ganhar o salário? Eles não têm nada com isso. Com relação ao salário, realmente, se fosse pelo desempenho do professor, talvez alguns deveriam ganhar mais, mas infelizmente todos são equiparados. Mas eu não posso olhar o meu aluno desta maneira. Eu tenho que lembrar que vim aqui exercer a profissão que escolhi e devo fazer bem feito, pois alguma sementinha precisa ficar dentro do coração deles. No futuro, eles se lembrarão e não passamos em brancas nuvens. Olhamos mesmo pelo lado emocional. O magistério não foi uma opção, mas como foi a opção que tive, tenho que fazer bem feito. E tenho que fazer a diferença. Hoje, amo de paixão. Há gente que fala: eu não sou um bom profissional, porque isso eu não queria para minha vida. Temos que pensar por outro lado: essa foi a oportunidade que tive e tenho que fazer bem feito, para fazer a diferença.

Como você vive isso na prática diária?

Eu me deito à noite e minha cabeça fica a mil, fico pensando no que posso levar, fazer. E isso não fica só dentro de minhas ideias, eu coloco em prática. Levo toda essa motivação para dentro da sala de aula e as crianças se mobilizam comigo. Ficam o tempo todo motivadas. Eles veem o meu desejo, minha vontade de levar uma coisa melhor e diferente, e a partir daí, também ficam motivados. Não querem perder aula, faltar, tentam cumprir com os compromissos, para que depois eles possam participar de tudo. Comigo tem um toma lá da cá. A criança que não é de cumprir com as responsabilidades sabe que, de uma forma ou outra, estarei cobrando. Então, eles querem participar dos projetos. Neste ano, eles estão motivados, sabem que acontecerão mil e uma coisas, como na Semana do Meio Ambiente. Aviso que terão que cumprir com tudo, para poder estar participando.

Você destacou-se justamente com seu projeto na área do meio ambiente. Qual o intuito do projeto “Meio Ambiente: pequenas atitudes; grandes mudanças”?

O meu projeto é uma realidade na escola, estamos desenvolvendo hábitos na criança. Por que pequenas atitudes? Porque é o que eu posso fazer na sala de aula. Não modificamos um ser humano totalmente. Então, qual é o destino para o papel que está no chão? Por que está retirando folha à toa do caderno? São estas pequenas atitudes dentro da sala de aula, que vão tomando um caminho: sala de aula, escola como um todo, casa. Já começam a policiar os familiares. Depois, pensamos em um lugar mais amplo, que é a rua. É isso: pequenas atitudes para termos grandes mudanças no futuro.

Quais foram as atitudes concretas do projeto?

Ele foi iniciado em junho de 2012. Nós tivemos palestras, pois acho muito importante estar trazendo profissionais voltados para essa área, que possam estar esclarecendo as crianças. Tivemos teatro, dança. Fizemos nossa horta suspensa nas garrafas pet, que ficou linda. Ela será reconstruída neste ano, em garrafas de cinco litros de água, que já estão na escola. Há voluntários, meu marido veio, preparou, cortou, porque há coisas que as crianças não podem fazer. Nós estaremos replantando nossa horta na Semana do Meio Ambiente. A terra foi fornecida por pais, as crianças trouxeram as garrafas, compraremos novas mudas, e reaproveitaremos as do ano passado. Fivemos o trelixo, que montamos com garrafões, depois de uma sugestão da professora Elane. Fizemos a composteira, onde produzimos o adubo orgânico para colocar nas plantinhas. Continuamos com a ação do Papa Óleo durante o ano todo, já arrecadamos em torno de 60 litros de óleo. Entrei em parceria com uma mãe, que fará o sabão e fornecerá para a escola. Na sexta-feira, as crianças trazem o óleo e o material reciclável. Agora, haverá uma premiação para a sala que trouxer mais. Conversamos na ACOMARP, para que eles possam buscar esse reciclado.

Como você chegou ao Prêmio Professores do Brasil?

Eu desenvolvi o projeto no ano passado para estar concorrendo a nível municipal, no Professor Aprendiz. Nem tinha intenção de mandar para o prêmio Professores do Brasil. Quando já estava quase finalizado, o Murilo, professor de Educação Física, comentou que o projeto estava muito bom, e que eu deveria me inscrever para o prêmio. Eu brinquei: uma coisa de cada vez. Finalizei no dia 19 de outubro, enviei para p Professor Aprendiz. No dia 26 de outubro, reformulei o mesmo projeto e enviei para o Prêmio Professores do Brasil, porque há uma estrutura diferente, mas é o mesmo projeto.

Qual é a escolha do Prêmio Professores do Brasil?

Eles escolhem as melhores experiências pedagógicas do Brasil. Então, concorri aqui e não ganhei o prêmio, todos ficaram sabendo. No dia 30 de novembro, tive um retorno de que meu projeto tinha ganhado o e estava entre os quarenta melhores do Brasil. Falaram que “minha ação, minha ideia brilhante e inovadora, e minha experiência” haviam ganhado o prêmio.

Como foi a premiação?

A premiação foi em Brasília, através do Ministério da Educação com vários parceiros, como o Grupo Votorantim, a Fundação Volkswagen, a Abrelivros, a SM e UNICEF. Fiquei três dias em Brasília, houve a premiação com troféu e 7 mil reais em espécie.

Que desdobramentos para sua vida este prêmio trouxe?

Eu já era uma pessoa conhecida, mas agora estou tendo uma cobrança maior da sociedade. Esse projeto me encantou, e tudo tomou uma nova dimensão. É tudo tão automático, agora, que não consigo pegar alguma coisa reciclável e colocar no lixo. Em casa está todo mundo assim. São essas pequenas atitudes. Tomou uma dimensão incrível, até na questão de parcerias. Eu não estou mais precisando ir atrás, hoje estou tendo a oportunidade de ter pessoas que oferecem a parceria. Eles vêm que é um projeto idôneo, que vale a pena investir.

Você tem espaço em revista devido ao projeto?

Sim, estou escrevendo na revista do Valdeir Lima. Logo que ganhei, a Cecília me convidou e deixou o tema livre. Hoje, estou aproveitando e colocando, como um conta gotas, incutindo um pouquinho em cada cabeça, para ver se fica algo para estarmos melhorando o meio ambiente.

Seu projeto está concorrendo a novo prêmio, através de um vídeo, e a escolha agora é do público. Como os paraisenses podem colaborar para sua vitória?

Os quarenta premiados tiveram a oportunidade de criar um vídeo sobre o projeto. Quem criou o vídeo com as minhas ações foi a professora Elisângela, com retoques da professora Vanize. Esse vídeo agora está na página do Facebook. O vídeo que tiver mais curtição ganhará uma nova premiação da TV Escola. A pessoa deve entrar na página www.facebook.com/premiopro fessoresdobrasil, procurar o meu vídeo “Meio Ambiente: pequenas atitudes; grandes mudanças...”, assistir - ele tem em torno de um minuto e meio- e colocar “curtir”. Eu gostaria muito de ganhar, mas agora eu dependo da população.

No lado pessoal, que história você está escrevendo?

Eu sou casada há 25 anos com o João batista Rodrigues, que é motorista da empresa Laticínios Aviação. Tenho três filhas, lindas, maravilhosas: a Mariana, de 25 anos, a Marina, de 19 anos, e a Maria Eduarda, que é a caçulinha, com 7 anos. Eu tenho de todas as idades!

Quando você não está envolvida com seus projetos relacionados à escola, do que mais você gosta de fazer?

Gosto é de curtir minha família! Como eu me dedico demais à escola, sobra pouco tempo para a família. É tão automático que todos acabam envolvidos com o meio ambiente. Então, não faço nada muito diferente, eu adoro ficar em minha casa. Não há um lugar melhor em minha vida do que minha casa. Sem brincadeira, eu recuso qualquer convite de festa por conta de ficar em minha casa. Nossa... Colocar o meu pijama, meu chinelo e assistir uma TV, bater papo, trocar ideia com a família. Não há coisa melhor do que isso!

Você é uma pessoa religiosa?

Sou da religião católica, mas não sou muito envolvida. Respeito todas as religiões, acho que todas têm seu valor. Nós precisamos acreditar em Deus, não importa a forma como buscamos isso.

O que você acha que está faltando para que as pessoas tenham mais consciência ambiental?

Eu acho que as pessoas têm consciência de sua responsabilidade com o planeta, mas elas não acreditam que isso possa acabar. Elas não acreditam que, se não fizerem sua parte agora, tudo realmente terá um fim. Eu acho que está faltando o respeito pela natureza, porque a consciência elas já têm. A gente pensa assim: ah, se eu jogar esse papelzinho não acontecerá nada, não vai entupir o bueiro. Mas ele é um papelzinho a mais nos que vão entupir o bueiro. Nós não pensamos que isso possa acontecer. Não há aquele ditado, que diz que é preciso acontecer para você acreditar? Se as pessoas realmente não colocarem em ação o que elas sabem, isso vai acontecer.

As crianças são fáceis de serem educadas. O que pode ser feito para que os adultos adotem uma postura de responsabilidade para com o meio ambiente?

É por isso que estou querendo pegar, mesmo, através das crianças. Porque se seu filho cobra, você ficará com vergonha, e vai começar a colocar em prática. Acho que o caminho que nós temos para educar o adulto é através da criança. Porque é muito feio ver um adulto ser chamado atenção por uma criança. É como a questão do cigarro. Se o filho falar várias vezes que o cigarro faz mal, o pai vai tomar consciência, ao menos para servir de exemplo para o filho. O adulto só vai colocar em prática a partir do momento em que for cobrado pela criança, pelo filho. Então, começaremos a modificar. Vejo em minha casa, de tanto falar em meio ambiente, até minha pequenininha me fala o que é reciclável. A todo o momento está me alertando. Se estou com a torneira aberta por mais tempo, fala: mãe, olha a água do planeta. São essas pequenas atitudes que farão a mudança no futuro.

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